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domingo, 4 de outubro de 2020

SAMYAMA: VISANDO O KAIVALYAM

Hudson Cunha
 
Para entender o yoga interior: o antaranga e a prática do samyama, necessário se faz reportar, ainda que sucinta e superficialmente, ao que é yoga. Etimologicamente, a palavra yoga vem do sânscrito, de yuj, que significa união, junção e unificar. Mas, Patanjali, no Yogasutra (1), esclarece esta união. 

Expõe o yoga como o gerenciamento cessador das manifestações da consciência, recolhimento das atividades mentais visando que o Eu interior manifeste em sua "natureza autêntica" (svarupam), sendo a meta do yoga a condição de perfeita integração (unidade) do praticante e o todo, chamada kaivalyam. Numa visão, mais próxima do Shamkhya (2), o yoga objetiva a união do ser humano com o espírito primordial (purusha), alcançando sua libertação espiritual (moksha). 

A prática do samyama, coerentemente com o objetivo yóguico, deve ser equilibrada e positiva, sátvica (3), relevante na redução ou supressão do fluxo das ondas mentais, na supressão das instabilidades da consciência e na superação dos riscos da vida interior mal direcionada. 
Samyama é um termo sânscrito, significa contenção e/ou ir junto. Foi usado por Patanjali, no Yogasutra, para abranger a prática articulada dos três partes (angas) estritamente ligados entre si e interiores do Yoga, ou seja, dhárana (concentração perfeita num só ponto ou idéia), dhyána (meditação, não no sentido comum no dicionário de reflexão, mas sim no yóguico, de gradual e contínua absorção da mente no objeto) e samádhi (êntase ou hiperconsciência, é um canal, atitude mental mais aprofundada, para alcançar a unidade). 

Com samyama se visa essencialmente à controle do processo de liberação e não simplesmente ao pensar em si; mas, contribui para o alcance também do equilíbrio espiritual, psíquico e do físico, com desbloqueios energéticos (o que será aprofundado no estudo da fisiologia sutil), benefícios inerentes à perfeita prática do samyama, portanto, com reflexos positivos na vida interior do praticante e no relacionamento com os demais seres, ou melhor, com todo o universo. E há quem afirme categoricamente estar dotado de poderes extraordinário pela prática do samyama. 

O samyama - para o sadhaka (praticante do yoga em busca da unidade) - não é estanque na prática yóguica (sadhana), como preconiza algumas linhas parciais do yoga. 

Fica cada vez mais claro, no desenvolvimento do yoga, que para alcançar um estado de libertação, é necessário ter uma estatura moral inquestionável e estar em forma física, mental e espiritual. Portanto, o samyama é praticado e visto no contexto das oito partes (angas) do yoga e de suas técnicas complementares, desde yama (restrições morais) e niyama (observâncias morais), passando pelos demais partes (angas) a saber: ásana (posições psicofísicas), pranáyáma (controle da bioenergia), pratyáhára (restrição consciente dos sentidos); com suas práticas complementares, tais como bandhas (contrações conscientes com influências neuroendócrinas e/ou hormonais em seus fluxos energéticos, adota-se principalmente nas práticas de pránáyáma e de ásana), mudrás (gestos reflexológicos, simbólico e magnético realizados com mãos e corpo), pújá (retribuição ética de energia), kriyá (limpeza e purificação das mucosas e órgãos internos), yôganidrá (relaxamento consciente com descontração psicofísica e assimilação de benefícios da prática yóguica), mantra (vocalização de sons e ultra-sons), ... em suas diversas modalidades. 

Em cada uma destas partes (angas) e técnicas complementares, pode-se aprofundar interiormente, inclusive com o uso de meios auxiliares externos como ambientes, incensos, japamala, músicas, imagens, estátuas, cores, livros sagrados, ... e yantras. 
E, o praticante (sadhaka) a cada momento, diária, ou melhor, permanentemente, se conscientiza que, também, no samyama é necessário dedicar à prática regular (abhyasa), com desapego (vairaghya) e com entusiasmo (bhava), para se alcançar vastos benefícios provenientes do interior e poderes interiores supranormais (siddhis).

 Há uma divisão na prática do yoga em dois níveis: a yoga exterior (bahiranga) e o yoga interior (antaranga). Na primeira consta dos ashtánga yoga de Pantajali, em oito partes (angas) as seguintes: yama, niyama, ásana, pránáyáma, pratyáhára. E, na segunda, antaranga: dhárana, dhyána e samádhi. Havendo quem considere que pratyáhára não estaria em nenhuma das duas, mas como intermediária, cujo tema será abordado em matéria específica. 

Portanto, neste blog, dado que já há diversas matérias de outros blogs e sites enfatizando as primeiras partes do yoga (bahiranga), sem ignorá-las em aspectos essenciais, desenvolveremos uma reflexão detalhada das diversas temáticas envolvidas para prática yóguica, com ênfase no yoga interior (antaranga).
 
1 Obra fundamental do yoga, escrita aproximadamente no século II D.C., onde se encontram copilados em aforismos os princípios prático-filosóficos fundamentais do yoga. 
2 Sistema filosófico indiano que foi desenvolvido concomitantemente com o Yoga. Ambos, Yoga e Shamkhya, são vistos como disciplinas irmãs, com influências recíprocas. 
3 Ou seja,de satva (equilíbrio do aparente instável, harmonia), unifica tamas (inércia, paralisia) e rajas (agitação, movimento).

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